As doutrinas apolinarianista e monotelista são visões cristológicas que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo e foram posteriormente rejeitadas pelos concílios ecumênicos. Ambas procuravam explicar a natureza de Cristo, mas acabaram sendo consideradas heréticas por comprometerem a plena humanidade e divindade de Jesus Cristo.
O Apolinarianismo foi uma doutrina proposta por Apolinário de Laodiceia no século IV. Ele defendia que Jesus Cristo não possuía um espírito humano, pois sua natureza divina teria assumido essa função. Apolinário argumentava que, se Cristo tivesse um espírito humano completo, haveria o risco de ele ter vontades conflitantes, o que poderia comprometer sua divindade e impecabilidade.
Essa visão, no entanto, foi considerada problemática porque negava a plena humanidade de Cristo. De acordo com a teologia cristã tradicional, para que a redenção fosse eficaz, Cristo precisava ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A ausência de um espírito humano em Cristo significaria que sua experiência terrena não teria sido totalmente humana, o que entrava em conflito com a crença central da encarnação.
Por outro lado, o Monotelismo surgiu no século VII, sendo defendido por Sérgio, patriarca de Constantinopla. Ele propôs que, apesar de Cristo possuir duas naturezas (humana e divina), ele tinha apenas uma vontade (theléma). O objetivo dessa doutrina era encontrar um meio-termo entre o monofisismo (que afirmava que Cristo tinha apenas uma natureza) e a doutrina calcedoniana (que reconhecia duas naturezas completas e distintas em Cristo).
O problema do monotelismo era que ele comprometia a integridade da humanidade de Cristo. Se Jesus não tivesse uma vontade humana distinta da vontade divina, sua humanidade estaria incompleta. A tradição cristã sustentava que, para que Cristo pudesse redimir plenamente a humanidade, ele precisava experimentar a realidade humana de forma completa, incluindo uma vontade própria.
Quais concílios declararam heresias o Apolinarianismo e o Monotelismo?
As doutrinas apolinarianista e monotelista foram rejeitadas pela Igreja através de concílios ecumênicos.
O Apolinarianismo foi condenado oficialmente pelo Concílio de Calcedônia em 451. Esse concílio reafirmou que Cristo possui duas naturezas completas, uma divina e outra humana, sem mistura ou confusão. Ao negar a presença do espírito humano em Cristo, o apolinarianismo foi considerado herético por comprometer a plenitude da encarnação.
O Monotelismo, por sua vez, foi rejeitado pelo Terceiro Concílio de Constantinopla em 681. Os bispos reunidos nesse concílio declararam que Cristo possuía não apenas duas naturezas, mas também duas vontades distintas e harmônicas — uma divina e outra humana. Isso estava de acordo com a doutrina estabelecida anteriormente no Concílio de Calcedônia, garantindo que Cristo era plenamente humano e plenamente divino em todos os aspectos, incluindo sua vontade.
A condenação dessas doutrinas foi essencial para preservar a cristologia ortodoxa, que ensina que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sem que uma de suas naturezas anule a outra. Essas definições foram fundamentais para a teologia cristã, garantindo uma compreensão coerente da encarnação e da obra redentora de Cristo.
Conclusão
Tanto o Apolinarianismo quanto o Monotelismo surgiram como tentativas de explicar a complexa relação entre as naturezas divina e humana de Cristo. No entanto, ao comprometerem um dos aspectos essenciais da cristologia ortodoxa, ambas foram consideradas heresias e rejeitadas pelos concílios da Igreja. A condenação dessas doutrinas ajudou a solidificar a compreensão cristã sobre a encarnação e a natureza de Cristo, assegurando que ele fosse reconhecido como plenamente Deus e plenamente homem, com duas naturezas e duas vontades distintas, mas perfeitamente unidas em uma única pessoa.