A cultura da igreja Universal do Reino de Deus no Brasil é um tema que desperta interesse e curiosidade de muitas pessoas, tanto dentro quanto fora da denominação. A Universal é uma das maiores e mais influentes igrejas evangélicas do país, com mais de 8 milhões de fiéis e cerca de 10 mil templos espalhados pelo território nacional. Mas o que caracteriza essa cultura religiosa? Quais são os seus valores, crenças, práticas e símbolos? Como ela se relaciona com a sociedade brasileira e com outras expressões de fé?
Neste artigo, vamos tentar responder a essas perguntas, apresentando alguns aspectos da cultura da Universal no Brasil, com base em pesquisas acadêmicas e em depoimentos de membros e ex-membros da igreja. Não pretendemos esgotar o assunto, mas sim oferecer uma visão geral e crítica sobre essa realidade tão complexa e diversa.
A origem da Universal
A igreja Universal do Reino de Deus foi fundada em 1977 pelo bispo Edir Macedo, um ex-funcionário da Loteria do Estado do Rio de Janeiro, que se converteu ao protestantismo na década de 1960. Macedo começou a pregar em uma pequena tenda no subúrbio carioca, usando um megafone e uma Bíblia. Ele se inspirou em movimentos pentecostais norte-americanos, como a Igreja do Evangelho Quadrangular e a Igreja Pentecostal Deus é Amor, que enfatizavam a cura divina, a libertação de demônios e a prosperidade material como sinais da bênção de Deus.
A Universal cresceu rapidamente, atraindo principalmente pessoas pobres e marginalizadas, que buscavam soluções para seus problemas cotidianos. A igreja se expandiu pelo Brasil e pelo mundo, chegando a mais de 100 países. Hoje, a Universal é considerada uma das maiores organizações religiosas do planeta, com uma estrutura hierárquica, administrativa e midiática que envolve milhares de pastores, obreiros, voluntários e funcionários.
A teologia da Universal
A teologia da Universal é baseada na interpretação literal da Bíblia, especialmente do Antigo Testamento. A igreja defende que Deus é um ser pessoal e soberano, que criou o mundo e o ser humano à sua imagem e semelhança. No entanto, o pecado original provocou a queda da humanidade e a entrada do mal no mundo, representado pelo diabo e seus demônios. Esses seres malignos são responsáveis por todas as formas de sofrimento humano, como doenças, pobreza, violência, vícios, depressão, etc.
Para se livrar dessas maldições e alcançar a salvação eterna, o ser humano precisa aceitar Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador, seguindo os ensinamentos bíblicos e obedecendo aos líderes da igreja. Além disso, o fiel precisa participar das campanhas de fé promovidas pela Universal, nas quais ele deve fazer sacrifícios financeiros em troca de bênçãos materiais e espirituais. Essa é a chamada teologia da prosperidade, que afirma que Deus quer que seus filhos sejam ricos, saudáveis e felizes nesta vida.
A prática da Universal
A prática da Universal é marcada por um forte apelo emocional e sensorial. A igreja realiza cultos diários em seus templos, que são transmitidos pela TV Record (rede de televisão pertencente ao bispo Macedo) e pelas redes sociais. Os cultos são conduzidos por pastores treinados pela igreja, que usam uma linguagem simples e direta para se comunicar com os fiéis. Eles pregam sobre temas como família, trabalho, saúde, dinheiro, amor, etc., sempre enfatizando a necessidade de fé e sacrifício para vencer os obstáculos.
Os cultos também são caracterizados por rituais de cura e libertação, nos quais os pastores impõem as mãos sobre os fiéis ou usam objetos consagrados (como óleo, sal ou rosas) para expulsar os demônios que causam as aflições. Esses rituais são acompanhados por música, luzes, gritos e manifestações físicas, que criam uma atmosfera de intensidade e dramaticidade. Os fiéis são estimulados a dar testemunhos de suas vitórias e agradecer a Deus pelas graças recebidas.
A cultura da Universal
A cultura da Universal é formada pelo conjunto de valores, crenças, práticas e símbolos que identificam e diferenciam os membros da igreja. Essa cultura é transmitida e reforçada pelos meios de comunicação da igreja, como a TV Record, o jornal Folha Universal, a rádio Rede Aleluia, o portal Universal.org, as redes sociais, os livros e os filmes. Esses meios divulgam a doutrina, a história, os projetos e as atividades da igreja, além de oferecer orientação e entretenimento aos fiéis.
A cultura da Universal também é expressa pelo estilo de vida dos membros da igreja, que seguem uma série de normas morais e comportamentais. Eles devem evitar o consumo de álcool, drogas, cigarro, jogos de azar e outras práticas consideradas pecaminosas. Eles devem se vestir de forma discreta e modesta, evitando roupas extravagantes ou sensuais. Eles devem se casar apenas com pessoas da mesma fé e manter a fidelidade conjugal. Eles devem educar seus filhos nos princípios bíblicos e levá-los aos cultos desde cedo.
A cultura da Universal também se manifesta pela participação ativa dos fiéis na igreja, que se envolvem em diversas atividades e projetos sociais. Eles frequentam os cultos regularmente, contribuem com o dízimo e as ofertas, se engajam em grupos de evangelização e assistência aos necessitados, como o Força Jovem Universal, o Grupo de Apoio ao Dependente Químico (GAD), o Anjos da Madrugada, o Evangelização Carcerária, etc. Eles também apoiam as candidaturas políticas indicadas pela igreja, que defendem os interesses e os valores da Universal.
A relação com a sociedade e com outras religiões
A relação da Universal com a sociedade brasileira e com outras religiões é marcada por tensões e conflitos. A igreja é frequentemente criticada por sua teologia da prosperidade, que é vista como uma forma de exploração dos fiéis e de desvio de recursos públicos. A igreja também é acusada de intolerância religiosa, especialmente contra as religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, que são consideradas como manifestações do diabo. A igreja já protagonizou episódios de violência contra essas religiões, como o caso do chute na santa em 1995 ou a invasão do terreiro em 2018.
Por outro lado, a igreja também enfrenta resistência e perseguição por parte de outros segmentos religiosos, como a Igreja Católica e algumas denominações evangélicas tradicionais ou históricas. Esses segmentos questionam a legitimidade teológica e eclesiástica da Universal, que é vista como uma seita ou uma heresia. Eles também criticam as práticas midiáticas e políticas da igreja, que são vistas como uma ameaça à liberdade religiosa e à democracia no país.
Conclusão
A cultura da igreja Universal do Reino de Deus no Brasil é um fenômeno religioso complexo e diverso, que reflete as demandas e as transformações da sociedade brasileira nas últimas décadas. A Universal oferece aos seus fiéis uma proposta de fé pragmática e dinâmica, que busca solucionar os problemas cotidianos por meio do poder divino. A Universal também representa um desafio para as outras religiões e para o Estado laico, que precisam dialogar com essa realidade sem preconceito ou violência.